quarta-feira, 30 de março de 2011

Os pássaros e o pavão (ou Sobre a Poesia, o Leitor e o Amor)




Título pomposo esse, não? Mas não vou me arriscar - e nem é esse o objetivo - a fazer considerações profundas sobre a poesia, a leitura e o amor, na verdade, como gosto muitos destes textos, apenas queria compartilhá-los. 




O que faz esta imagem com penas de pavão aí em cima? O que isso tem a ver com crônica, com a criação de uma artista, com o amor?


Há textos que me bastaram uma primeira leitura para perceber a beleza e a poesia que neles existem. Textos que, na minha humilde opinião, estão entre os melhores que já escritos (ou, pelo menos, dos que mais gosto ou, mais exatamente, dos que já li, é claro). Textos que, mesmo após muito tempo, ainda me vem a mente. Como hoje, por exemplo,


Que poder de simplicidade e esplendor há nesta crônica. Comentar não ajuda muito. Talvez, alguém não irá achar grande coisa, talvez... Como diria Manuel Bandeira, em seu poema Madrigal Melancólico, “a beleza, é em nós que ela existe”. Também Quintana, em seu poema intitulado Os poemas, pensa de forma parecida. O poema é curto e segue abaixo:


Os Poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles
alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
 
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
(Negrito meu)


Os textos são maravilhosos, mas se não encontram eco em que os lê, se não encontram pouso, serão apenas um amontoado de palavras, um conjunto de caracteres desprovidos de beleza.




O Pavão

Rubem Braga


Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.


Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.


Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.


Rio, novembro, 1958


Texto extraído do livro "Ai de ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 149. Agradeço ao Antônio pela lembrança.

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